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 Seminário de Mulheres Negras do RS levanta demandas para o Seminário Nacional

Seminário de Mulheres Negras do RS levanta demandas para o Seminário Nacional

O Seminário de Mulheres Negras/Regional RS, realizado no auditório da Escola de Gestão do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada (SIMA), no primeiro dia de julho de 2023, reuniu lideranças negras da Região Metropolitana de Porto Alegre. O tema “Nosso Saber é Ancestral” sugeria a pretensão do encontro, aberto com declarações expressivas das lideranças e com o canto do ponto de Exu, orixá da Umbanda, religião de matriz africana. Pela cedência do espaço para a realização do evento e das dependências em que foi servido o almoço, situado na região central de Alvorada, as organizadoras agradeceram à diretoria do SIMA, presidida por Rodinei Rosseto.

Falando na abertura do evento, a Assistente Social Vera Brazil, que é servidora pública há 16 anos, em Alvorada, relatou a luta histórica e dificuldade encontrada pelas mulheres na participação do processo sindical, já esse espaço foi historicamente pensado e construído para os homens. Ingressar em um espaço masculino com poucas mulheres, sendo ela uma mulher negra, é um desafio pessoal.

Vera Brazil associa a questão racial à própria luta de classes, pois é o grupo de trabalhadores e trabalhadoras que constrói a política pública no município, em meio à muita dificuldade. Na visão da servidora, que também é dirigente do Sindicato dos Servidores Públicos de Alvorada, os servidores não conseguem fazer frente a destruição das políticas públicas e ao mesmo tempo promover a inserção social da população local.

DEMANDAS GAÚCHAS PARA O SEMINÁRIO NACIONAL

A jornalista Marina Silveira, que é mestranda em Comunicação, explicou que o Seminário de Mulheres Negras/Regional RS é uma promoção conjunta com a Rede Nacional de Mulheres Negras, a Aliança Negra e o Fundo Elas +, com propósito de levantar as demandas das negras do Rio Grande do Sul e levá-las para o Seminário Nacional, que ocorrerá em Salvador, no mês de julho. 25 de julho é o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e outro momento para reconhecer que as nossas irmãs escravizadas, como nós na atualidade, buscaram liberdade.

Partindo da premissa que a sociedade gira em torno da população negra, por corresponder a 56% do contingente populacional brasileiro, Marina Silveira acredita que as discussões devem focalizar centralmente essa população, que é majoritária. Para ela, o Seminário é um espaço próprio para seja pensado qual é o lugar da mulher negra na sociedade. A jornalista cita o município de Alvorada e o bairro Restinga, no Extremo Sul de Porto Alegre, como dois pontos de concentração da população negra.

RACISMO AFETA A SAÚDE DAS NEGRAS

As participantes do encontro ainda abordaram o chamado o racismo institucional (RI) e suas implicações na saúde das mulheres negras. O racismo e a discriminação de gênero produzem efeitos diversos na sociedade, que provocam restrições específicas aos direitos das mulheres negras também, como manifestação de duplo preconceito. O racismo expõe as pessoas a riscos enormes, seja na hipertensão, diabetes, na gravidez, no parto ou na saúde neonatal infantil.

Estudos mostram que as mulheres negras possuem o pior acesso e qualidade de atendimento médico, fruto do racismo institucional. Em depoimentos, a combinação racismo e machismo foi denunciada como fator fragilizante da condição social em que as mulheres negras se encontram, reforçando o descaso institucional. Como a população negra apresenta os piores indicadores sociais, o impacto e a extensão da diferenciação racial são reconfirmados através de estatísticas.

A invisibilidade dos grupos étnico-raciais na sociedade são notadas na inexistência de políticas públicas que considerem as particularidades das mulheres negras e o quanto a discriminação afeta a saúde e potencializa agravos e doenças. As desigualdades no tocante à saúde, as demandas sociais, econômicas e de gênero afetam muito mais as mulheres negras.

LIDERANÇAS PRETAS DE RESPEITO

Ostentando penteados e indumentária à moda africana, como resgate da ancestralidade, as participantes do Seminário de Mulheres Negras/Regional RS exibiram a elegância do padrão negro de beleza, diferenciado do padrão elitista. A qualidade de lideranças, palestrantes, participantes e convidados manteve o nível observado na estética negra. Mulheres que representam o empoderamento feminino deram sua contribuição ao debate permanente sobre as lutas das mulheres negras.

Presentes no encontro, Renata Lopes, jornalista do Projeto Reconexões – Mulheres Conectadas Transformam o Mundo (Revista Impressa e Onlline); Rose Diaz, Assessora Pedagógica do Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais (NERER) e Coordenadora Pedagógica do Coletivo Kindezi e cofundadora do Coletivo Profes Pretos; Sandra Loules, da Rede Nacional de Mulheres e graduanda de Serviço Social; Jéssica Lein, da Rede Nacional de Mulheres; Indiara Tainan dos Santos, do Núcleo de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação de São Leopoldo, professora, pedagoga, Mestranda em Ensino de História da UFRGS; Milena Bittencourt, Nutricionista e presidente do Conselho de Segurança Alimentar de Porto Alegre (Comsans); Vera Costa, presidente da União das Associações de Moradores de Alvorada (UAMA), e Fernanda Pegorini, Advogada Popular e membro do diretório Municipal da Unidade Popular pelo Socialismo em Porto Alegre.

A jurista e psicopedagoga Pérola Sampaio, que milita no Movimento Negro Unificado (MNU), apresentou palestra sobre o tema “Mulheres na Política”. A cacique Kaingang Gãh Té, líder do povo indígena que ocupa o Morro Santana, em Porto Alegre, relatou as dificuldades enfrentadas por ela e por seu povo na luta pela afirmação da própria cultura, oferendo exemplos de resistência à imposição conservadora.

Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)