
EDUCAÇÃO EM ALVORADA: ESCOLA NÃO É QUARTEL, PROFESSOR NÃO É SOLDADO
Nas redes sociais, a educação de Alvorada virou vitrine de um “novo modelo pedagógico”. Mas nas escolas, o que se vive é sobrecarga, improviso, constrangimento e um projeto autoritário que avança sem diálogo.
UM PROJETO IMPOSTO, NÃO ESCOLHIDO
De um lado, vídeos bem editados falam em inovação. Do outro, servidores da educação relatam um dia a dia de estresse, imposições e desrespeito.
A mudança no horário das escolas foi feita sem consulta pública, e quando o SIMA organizou uma votação online aberta, com mais de 1.200 votos pelo retorno ao horário anterior, a gestão ignorou o resultado. O argumento? “Nem todos eram da educação”. Ou seja: só vale ouvir a comunidade quando ela concorda com a gestão.
Hoje, nas escolas municipais, professores não podem mais se alimentar no refeitório como sempre fizeram. São obrigados a usar a sala dos professores ou a comer fora, para quem leciona perto do centro da cidade, tem uma gama de restaurantes perto, porém, a realidade para quem é profissional da educação nos sítios dos açudes é outro.
Sem falar, que nas escolas geralmente há apenas uma geladeira e um micro-ondas para toda a equipe. Se o micro-ondas estraga, os professores viram “boia-fria”. O secretário afirmou que autorizou a compra de novos equipamentos, mas os recursos sairiam do orçamento de manutenção das escolas. Ou seja: a diretora tem que escolher entre tapar uma goteira, pintar uma sala ou comprar uma geladeira de R$ 2 mil. A conta não fecha, e quem paga é a equipe escolar.
Além disso, no começo do ano, alguns professores foram removidos de suas escolas sem motivação. O SIMA tentou a conciliação para reverter o caso, mas o secretário sequer apareceu. Na época, mandaram representantes, como o secretário da Fazenda, Maurício Cardoso.
O que fizemos? Fomos à Justiça. E o Ministério Público determinou o retorno desses profissionais às suas escolas de origem. Se o SIMA não tivesse agido daquela maneira naquele dia, parece que teriam transformado a educação pública em um quartel, mas sem comando legítimo, sem estrutura e com professores tratados como soldados exaustos.
A INCLUSÃO VIROU MARKETING. NA PRÁTICA, É ISOLAMENTO.
Em vez de construir um projeto pedagógico com participação dos profissionais da área, o que se vê é o atropelo das práticas democráticas. Um modelo que aumenta a carga de trabalho sem oferecer as mínimas condições.
- Faltam professores.
- Faltam profissionais da inclusão.
- Faltam Orientadores e Supervisores
- Falta estrutura para implementar as mudanças que estão sendo exigidas.
O resultado? A sala de aula virou um campo de resistência. Alunos com deficiência estão sem acompanhamento. Professores se desdobram em três, quatro, cinco funções ao mesmo tempo. E a gestão responde com silêncio, ou com mais imposição.
Há escolas com 7, 8, até 12 alunos com necessidades especiais sem nenhum profissional de apoio. Professores são jogados no escuro, sem capacitação nem suporte. E as famílias começam a perceber o abandono.
A consequência? Alunos excluídos dentro da própria sala, professores adoecendo e, uma educação que promete ser inclusiva… mas pratica o oposto.
E isso pode comprometer seriamente o desenvolvimento de estudantes que precisam de apoio individualizado, adaptação curricular e presença constante de um profissional especializado. A negligência atual não é apenas desumana, é um retrocesso perigoso.
QUANDO A PALESTRA VIROU PÚLPITO E A SEGURANÇA VIROU MAD MAX
O que era para ser uma palestra educativa sobre bullying se transformou em um episódio grave de doutrinação religiosa. Durante o horário de aula, grupos evangélicos foram autorizados a entrar nas escolas para pregar diante de crianças. Relatos mostram alunos chorando, assustados, ouvindo falas sobre “pecado”, “inferno” e “falta de pai”. Teve criança sendo carregada no colo por adultos que nunca tinham visto. Isso não é liberdade religiosa, é uma violação clara do Estado Laico.
Na mesma lógica de improviso e falta de planejamento, a gestão anunciou a colocação de guardas municipais fixos em frente às escolas. Mas a realidade é assustadora: agentes sozinhos, sem coletes, sem abrigo, sem rondas e, muitas vezes, com armas próprias, em postos improvisados. É o retrato de uma segurança pública que mais parece um roteiro de Mad Max do que uma política séria de proteção. O problema da violência nas escolas não se resolve com medidas simbólicas, se resolve com estrutura, diálogo, equipe multiprofissional e valorização de quem faz a educação todos os dias.
SEM ESCUTA, NÃO HÁ EDUCAÇÃO
Chamam de “revolução”, mas o que se vive nas escolas é autoritarismo disfarçado de inovação: decisões impostas, falta de diálogo e desrespeito com quem educa.
Uma escola se constrói com escuta e humanidade, com eleições democráticas para suas direções e com a construção de uma política pedagógica consultiva e participativa. E quem mais entende dela é quem está ali todos os dias, com os alunos, na sala de aula.
O SIMA não vai se calar. Seguimos ao lado da categoria, defendendo o presente dos servidores e o futuro da educação pública em Alvorada. Se filie, participe das lutas e ajude a construir um serviço público mais justo e valorizado para todos.
RODINEI ROSSETO
Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Alvorada (SIMA)